Friday, November 26, 2010

anotações digitais - sobre Roger Chartier



< http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/fundamentos/especialista-historia-leitura-427323.shtml >
Roger Chartier - questionou o papel da circulação e apropriação dos textos, enfatizando a distância entre o sentido atribuído pelo autor e por seus leitores.
* primeira grande revolução da história do livro foi o salto do rolo de papel para o códice
* a segunda está sendo o salto para o suporte eletrônico, no qual é a mesma superfície (uma tela) que exibe todos os tipos de obra já escritos.
"Chartier compreendeu que um texto não é uma simples abstração e que ele só existe graças à maneira como é transmitido", afirma Mary Del Priore

Da Resenha sobre o livro de roger chartier: a história cultural entre práticas e representações. de Ieda R. Amaral e Luciane M. Faria:
"Sua trajetória intelectual abrange várias linhas de pesquisa: uma primeira linha seria a história das instituições de ensino e das sociabilidades intelectuais; uma segunda linha de pesquisa, que perpassa o conjunto de sua obra, é constituída pela história do livro e das práticas de escrita e de leitura; uma terceira linha de pesquisa seria a análise e o debate entre política, cultura e cultura popular; uma outra linha ainda pode ser derivada de suas reflexões sobre o ofício de historiador, expressas em suas publicações e em suas atividades como divulgador de uma nova história." "A História Cultural, esclarece Chartier, é importante para identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma realidade social é construída, pensada, dada a ler... ele se preocupa com a forma através da qual os indivíduos se apropriam de determinados conceitos.Assim valoriza as mentalidades coletivas. Conceitos como os de utensilagem mental, visão de mundo e configuração têm importância fundamental para o estabelecimento de um diálogo com as fontes."


< http://pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/2479,1.shl >
Conversa com Roger Chartier Por Isabel Lustosa

"Chartier resistiu bravamente a se tornar ele mesmo objeto de estudo, mas no exercício legítimo desta resistência nos proporciona aqui uma interessante reflexão sobre a questão biográfica."
"de Wright Mills: "A erudição é uma escolha de como viver e ao mesmo tempo uma escolha de carreira; quer o sabia ou não, o trabalhador intelectual forma seu próprio eu à medida que se aproxima da perfeição de seu ofício"."
--> Roger Chartier: Tenho sempre uma certa prudência com questões pessoais. Acho que, quando a gente fala de si, constrói algo impossível de ser sincero, uma representação de si para os que vão ler ou para si mesmo...Outro aspecto da ilusão biográfica ou autobiográfica é pensar que as coisas são muito originais, singulares, pessoais, quando são, na verdade, freqüentemente, experiências coletivas, compartilhadas com as pessoas pertencentes a uma mesma geração. Ao fazer um relato autobiográfico é quase impossível evitar cair nesta dupla ilusão: ou a ilusão da singularidade das pessoas frente às experiências compartilhadas ou a ilusão da coerência perfeita numa trajetória de vida...
Chartier: Traduzido para o francês como “La culture du pauvre”, o livro de Hoggart é realmente maravilhoso, pois consegue articular elementos biográficos com uma reflexão profunda sobre a mídia voltada para as classes populares.O principal propósito desse livro é questionar a idéia segundo a qual todos os leitores ou ouvintes das produções dessa indústria cultural acreditavam piamente em suas mensagens...“mass media” do tempo -rádio, cinema e revistas- impunham... Hoggart queria mostrar que havia uma relação muito mais complexa, ambivalente, entre crer e não crer, aceitar a ficção e, ao mesmo tempo, ter a consciência de que se trata de um mundo irreal...
Na Lyon da minha infância ia-se à ópera como se ia ao cinema, duas, três vezes por semana. Era uma apropriação muito popular não de todo o repertório da ópera, mas principalmente da ópera italiana, de Verdi, dos franceses. Meu pai viu “Carmen” 25 vezes. Essa relação mudou entre os anos 1960 e 1970, quando este mundo dos artesãos foi gradativamente desaparecendo e, em seu lugar, surgiu uma fratura mais profunda entre o mundo dos que vão à ópera e o dos que gostam de outra forma de diversão...
Agora há uma fragmentação infinita... É uma forma de fragmentação cultural que também se pode ver como uma forma de liberdade e de diversificação. Mas ao mesmo tempo, 68 marca também o desaparecimento de uma cultura compartilhada e arraigada numa referência como a literatura nacional e universal."

< http://carlosscomazzon.wordpress.com/2008/12/26/a-midia-eletronica-segundo-roger-chartier/ >
A mídia eletrônica segundo Roger Chartier
"A aventura do livro, lançado pela Editora Unesp, no qual o autor enfoca de maneira instigante a reorganização do mundo da escrita após a internet...Segundo ele, se a tecnologia for amplamente utilizada dentro do mundo escolar, será possível criar uma nova geração de leitores e difundir ainda mais a leitura. 'Não há uma imposição da cultura eletrônica sobre a cultura escrita'”
"Roger Chartier – As novas tecnologias poderiam ajudar a criar uma nova geração de leitores e a difundir a leitura, se pensarmos em sua utilização dentro do mundo escolar... É uma responsabilidade que vejo não somente como sendo da escola, senão também como de outras instituições contemporâneas como a mídia – televisão e jornal ...Estas instituições são incumbidas de cultivar a importância da leitura para que o cidadão possa conhecer sua sociedade e ter ferramentas críticas para compreender sua situação, os mecanismos que governam sua condição e a relação com outras pessoas e com os poderes.A partir da leitura, o cidadão moderno pode ter uma relação crítica e mais neutra com os mecanismos da sociedade que regem seu dia-a-dia e, assim, ser menos dominado por eles...
Roger Chartier – Existem diversas definições de analfabeto. A clássica, existente no Brasil e em outros países, é aquela em que o indivíduo não sabe ler nem escrever...Acho que saber ler e escrever não seja suficiente para “ler” e “escrever”.. Faz-se necessário a familiaridade com a escrita, no sentido que o indivíduo tenha uma cultura que o faça pensar por si mesmo, na relação com os outros e nas relações com os poderes econômicos, sociais e políticos...
Roger Chartier – Devemos ter em mente que Gutenberg criou a imprensa e não o livro da forma como o conhecemos. O livro nasceu nos primeiros séculos da era cristã e se diferenciava dos livros em rolo dos romanos e dos gregos. Com o tempo ele adquiriu a forma como nós conhecemos: com as folhas dobradas, as páginas e a encadernação. O livro chamado pelos historiadores de códice existiu antes e depois de Gutenberg. Nossa relação com o texto está ligada não só à técnica de Gutemberg, mas, principalmente, ao formato de livro que permite ler e escrever, folhear e criar índices. Isto não era possível com o livro da antiguidade. O rolo não pode ser folheado porque não tem folhas, não pode ser paginado porque não tem páginas e nem índices. Todo nosso relacionamento corporal com a cultura escrita está vinculado à forma de livros como conhecemos. Por esta razão, o texto eletrônico lança um grande desafio ao requerer uma mudança de hábitos. Temos que ler em frente a uma tela de computador, existe o teclado e o texto é lido como se fosse um rolo. Mas ao mesmo tempo utilizam-se todos os códigos de um livro: a paginação, o índice…
Um livro é ...uma obra com uma identidade, uma coerência e um autor. É a cultura do código, a vinculação objeto-obra, que desaparece com o texto no computador...O desafio é como conseguir ver o livro digital como obra coerente, com unidade e identidade."

1 comment:

mari said...

O desafio lançado à história pelas novas disciplinas assumiu diversas formas,
umas estruturalistas, outras não, mas que no conjunto puseram em causa os
seus objetos- desviando a atenção das hierarquias para as relações, das
posições para as representações- e as suas certezas metodológicasconsideradas
mal fundadas quando confrontadas com as novas exigências
teóricas (CHARTIER, 1990, p.14).
A cada civilização, a sua utensilagem mental; mais ainda, a cada época de
uma mesma civilização, a cada progresso (quer das técnicas, quer das
ciências) que a caracteriza- uma utensilagem renovada um pouco mais
desenvolvida para certas utensilagens, um pouco menos para outras.[...] a
utensilagem vale pela civilização que soubesse forjá-la; vale pela época que
a utiliza; não vale pela eternidade, nem pela humanidade, nem sequer pelo
curso restrito de uma evolução interna de uma civilização (Febvre apud
Chartier, 1990, p.36).
O que define utensilagem mental “é o estado da língua, no seu léxico e na sua sintaxe,
os utensílios e a linguagem científica disponíveis, e também esse suporte sensível do
pensamento que é o sistema das percepções, cuja economia variável comanda a estrutura da
afetividade” (CHARTIER, 1990, p.37).
Em primeiro lugar, o trabalho de classificação e de delimitação que produz
as configurações intelectuais múltiplas, através das quais a realidade é
contraditoriamente construída pelos diferentes grupos; seguidamente, as
práticas que visam fazer reconhecer uma identidade social, exibir uma
maneira própria de estar no mundo, significar simbolicamente um estatuto e
uma posição; por fim, as formas institucionalizadas e objetivadas graças às
quais representantes (instâncias coletivas ou pessoas singulares) marcam de
forma visível e perpetuada a existência de um grupo, da classe ou da
comunidade (CHARTIER, 1990, p. 23).